segunda-feira, 7 de março de 2016

Ao Dia da Mulher... consciência maior aos homens



CORAÇÃO DE GALINHA

Houve um tempo há pouco tempo, celular não existia.
Conversar - rodar o mate - era muito mais frequente.
Foi num destes ambientes que disseram pra um menino:
- Para você, pequenino, vou assar algo especial!
É o coração de uma ave criada nos cativeiros.
Noutros tempos a galinha só se via nos terreiros.

  Foi depois, já degustado, a pergunta formulada.
- Papai! Por que é tão bom o coração de galinha?
Respondeu, pondo farinha, no pratinho do inocente:
- São importantes pra gente! Põe os ovos, um por dia!
 Quando choca, se arrepia; cria os pintos, cuidadosa.
E por ser boa a galinha, a sua carne é gostosa.

Como águas passageiras, segue a vida compassada.
Este filho, agora pai, tinha urbano laborar.
Mantinha, em seu novo lar, modernismos e bazares.
Internet, celulares, num consumismo selvagem.
Neste andar da carruagem, de criador esmerado,
dois empregos – longas horas – em casa sempre cansado.

E doutra vez, sem escola, levou o filho aos avós.
Na mochila um videogame, dois ipad e um robô.
Lá no sítio do vovô: - Poderiam lo cuidar?
E à noite, tem jantar? Um churrasquinho talvez?
Foi assim que se refez, numa tarde em calmaria,
O ritual para o preparo desta simples iguaria.

O vovô foi explicando ao netinho que ajudava:
- Corte a ponta de gordura do coração da galinha.
Antes do sal de cozinha ponha as ervas e azeite.
Alguns adicionam leite, porém tudo é complemento...
Pediu vez, neste momento: - Mas por que ele é tão bom?
Entre as carnes de segunda não se inclui o coração?

No terreiro, um carijó, pediu milho em cantorias.
E as galinhas se juntaram cacarejando em coretos.
Aprendeu lascar gravetos, fez o fogo e coisas mais.
À noite, já com seus pais, uniram-se gerações.
E o piazito viu lições, naquela simplicidade,
vislumbrando fantasias – mais amor e liberdade.

Retornando para casa – no silêncio - adormeceu.
Foi na cama, em oração, o pai ouviu, comovido:
- Deus! Atenda meu pedido! Que termine este castigo
de não ter os pais comigo. De senti-los a meu lado!
Disse ainda, emocionado: doava tudo que tinha
para a vida ter sabor... de um coração de galinha!