domingo, 31 de agosto de 2014

Letra musicada por Wilson Paim e que dá título ao CD, com 14 canções, WILSON PAIM interpreta OTAVIO REICHERT,



O PORQUÊ DO TCHÊ!

Dia de missa na igrejinha lá da vila.
Domingo cedo atrelei os dois cavalos.
A jardineira, com a família, foi ao trote,
levando um pote para fazer-lhe regalo.

Padre vigário proferiu sabedorias.
Fez a partilha; mensagens do criador.
E pra o regalo nos disse: “Se lê tchelestis”.
Lá na quermesse decifrou o seu teor.

Vem do latim e quer dizer: “Que vem do céu!”
Língua espanhola, apocopando ficou “Chê!”
Povo gaúcho, mesclado com berço andino...
Sangue latino: vem do céu! Então é Tchê!

SE PERGUNTAREM O PORQUÊ DO TCHÊ!
CANTEM COMIGO E IRÃO SABER.
VEIO DO CÉU O SUBLIME AMOR...
PRA MINHA FLOR TAMBÉM DIGO TCHÊ!
Poesia vencedora do Concurso do MTG - Melhor Poesia Tema - da Semana Farroupilha 2014.



NOUTROS TEMPOS
Noutros tempos… A história não se escrevia.
Em prosas se repetia perpassando gerações.
Grandiosas tribos, nações, na liberdade da pampa,
mateavam a verde estampa de geografias sulinas.
Corriam matas, campinas, vagueavam rios e oceano,
quando o estrangeiro aragano içou velas matutinas.

Noutros tempos… O tapuio surpreendido,
ouviu relinchos, mugidos, ecoando pelo varzedo.
Nas reduções, em segredo, índia e branco se espelharam.
Os jesuítas batizaram a china e mozo gaudério.
O sul se tornou império; a bombacha fez querência.
Gaúcho se fez essência com resquícios de mistério.

Noutros tempos… Foi cabaça e taquapi.
Do berçário Guarani foi herdado o chimarrão.
Costela em fogo de chão; o charque feito em varais.
Muitas vendas junto ao cais onde aportavam imigrantes.
Tropeiros e bandeirantes riscando o mapa da história.
Fez-se a linha divisória mesclando sangue e semblantes.

Noutros tempos… Fizeram revolução.
Firmeza e proposição estampadas na bandeira.
Criaram hino em trincheiras com horizontes de ternura.
Origens, lutas, cultura! As auras fortalecidas.
Fez mulheres aguerridas e homens de estirpe guapa.
Reminiscência farrapa repontando as nossas vidas.

Noutros tempos… Foi a bota de garrão.
Chiripá no cinturão respaldando a boleadeira.
O ponche, raiz campeira, aparou golpes de faca.
O gaúcho crava estacas defendendo seu torrão.
Tem nas lides de galpão, nas prosas volteando o mate,
O legado dos embates falquejando a tradição.

Noutros tempos… Negrinho do pastoreio!
Quem do sul, ou faz rodeios, traz cambona na algibeira.
De primitiva e lindeira a pátria se fez retrato.
Chimangos e maragatos com seus tinos libertários.
Somos jovens legendários! Na Semana Farroupilha,
com viola que se dedilha, … Rio Grande refaz cenários.

Glossário: Tapuio: origem Tupi; índio bravio.
Mozo perdido e china: assim denominados os mamelucos – branco com índio que, rejeitados nas tribos procuraram espaços nas fazendas. Dele se origina o chiripá primitivo, primeira vestimenta do gaúcho.