terça-feira, 10 de junho de 2014

POEMA HOGARAITAI. Premiada pelo MTG



Por Otavio Reichert!

Das lendas do sul...

Hogaraitai

Bela índia, cor da terra,
de uma tribo diferente.
E Jaebé, o proponente,
por ela apaixonado.
Havia um ritual sagrado
de que todo pretendente,
provasse que era valente
pra depois serem casados.

Faltava ainda uma prova
que aquela tribo exigia.
“O jejum de nove dias
em um couro enrolado”.
Com guardas cuidando ao lado,
nove dias só com água;
Ele sem demonstrar mágoa
aceitou ser desafiado.

 Bela índia, cor da terra,
por amor entristecida.
Novena se fez comprida,
nem podia chegar perto.
Quem foi ninguém sabe ao certo,
se ciúme ou por má-fé...
Ficou sem água Jaebé,
feito planta no deserto.

Ela pressentiu-lhe a morte,
viu Jaebé se apequenando.
 Em lamentos implorando,
Tupã fizesse magias.
Ao findar dos nove dias
a tribo viu, estarrecida:
ele ainda tinha vida,
mas um mistério emergia.

O corpo tinha minguado
de uma forma sem igual.
E num sobrenatural
transformou-se em passarinho.
Saiu voando sozinho,
porém um dia depois,
Perceberam serem dois
Num galho fazendo ninho.

Fizeram com barro e palhas,
casa e ninho majestoso.
E de um sumiço misterioso
o pajé leu a mensagem.
Revelou-se na plumagem
a bela índia cor da terra.
A aldeia hoje é tapera,
mas eles vivem na paisagem.

Hogaraitai! O casal que narro...
canta o amor junto a toca.
O seu lar lembra uma oca!
É a lenda... do João-de-barro!


Hogaraitai: Linguagem indígena: João-de-barro. Símbolo da ave doméstica. Filho dos bosques, que canta o hino do trabalho. Baseado na Antologia ilustrada do Folclore brasileiro. Estórias e Lendas do RS, p. 54.